As necessidades de luz da castanheira

A luz solar é a fonte de energia primária para a vida na Terra e desempenha um papel absolutamente vital no crescimento, desenvolvimento e produção da castanheira. Como espécie heliófila, ou seja, amante do sol, a castanheira requer uma exposição solar direta e abundante para realizar a fotossíntese de forma eficiente. Este processo bioquímico, que ocorre nas folhas, converte a energia luminosa, a água e o dióxido de carbono em açúcares (hidratos de carbono), que são a base energética para todas as funções da planta, desde o crescimento dos ramos e raízes até à produção de flores e frutos. Uma gestão inadequada da luz no pomar pode limitar severamente o potencial produtivo da cultura.
A quantidade e a qualidade da luz que uma árvore recebe influenciam diretamente a sua arquitetura e morfologia. Em situações de ensombramento, as árvores tendem a crescer mais em altura, num fenómeno conhecido como etiolamento, à procura de luz, desenvolvendo troncos mais finos e copas menos densas. A falta de luz no interior da copa leva à morte dos ramos mais baixos e internos, reduzindo a área produtiva da árvore. Por outro lado, uma boa exposição solar promove uma copa mais ampla, bem ramificada e com uma maior densidade de folhas sadias e fotossinteticamente ativas.
A luz é também um fator determinante para a diferenciação dos gomos florais. Os gomos que recebem mais luz têm uma maior probabilidade de se diferenciarem em gomos florais em vez de gomos vegetativos, o que se traduz numa maior produção de flores e, consequentemente, num maior potencial de produção de frutos no ano seguinte. Após a floração, a energia proveniente da fotossíntese é essencial para o vingamento dos frutos e para o seu posterior crescimento e enchimento. Castanhas provenientes de zonas bem iluminadas da copa são, regra geral, de maior calibre e mais ricas em reservas.
Deste modo, todas as práticas culturais que visam otimizar a interceção e a distribuição da luz no pomar e no interior da copa de cada árvore são de extrema importância. A escolha do compasso de plantação, a orientação das linhas de plantação, a poda de formação e a poda de manutenção são ferramentas que o agricultor pode e deve utilizar para garantir que a maior superfície foliar possível esteja exposta a níveis de radiação solar adequados, maximizando assim a eficiência fotossintética e a produtividade do castanhal.
Fotossíntese e produção
A fotossíntese é o processo pelo qual a castanheira produz o seu próprio alimento. Utilizando a clorofila, o pigmento verde presente nas folhas, a árvore capta a energia da luz solar para transformar o dióxido de carbono atmosférico e a água absorvida pelas raízes em glicose (um açúcar) e oxigénio. A glicose produzida serve como fonte de energia imediata para a respiração celular e como bloco de construção para a síntese de todas as outras moléculas orgânicas de que a planta necessita, como a celulose para as paredes celulares, o amido para as reservas e as proteínas.
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A taxa de fotossíntese não é constante, dependendo diretamente da intensidade da radiação luminosa. Aumenta com a luz até atingir um ponto de saturação, a partir do qual, mesmo que a intensidade luminosa continue a aumentar, a taxa fotossintética estabiliza. As folhas que se encontram em zonas sombreadas da copa têm uma taxa fotossintética muito baixa ou nula, podendo mesmo tornar-se “parasitas”, consumindo mais energia através da respiração do que aquela que produzem. Isto sublinha a importância de manter uma copa arejada e bem iluminada.
A produção total de hidratos de carbono de uma árvore, que é o motor do seu crescimento e frutificação, depende da taxa fotossintética de cada folha individual e da área foliar total que está a fotossintetizar ativamente (a chamada área foliar eficiente). O objetivo de práticas como a poda é precisamente maximizar esta área foliar eficiente, eliminando os ramos sombreados e improdutivos e promovendo o desenvolvimento de novos ramos em zonas bem expostas da copa.
Uma boa nutrição e um fornecimento de água adequado são também essenciais para uma fotossíntese eficiente. A clorofila, por exemplo, contém magnésio e a sua síntese requer azoto. A abertura dos estomas, os pequenos poros nas folhas por onde entra o dióxido de carbono, depende do estado hídrico da planta. Portanto, a gestão da luz deve ser integrada com uma correta gestão da rega e da fertilização para que a árvore possa expressar todo o seu potencial fotossintético.
Influência no compasso e orientação
A escolha do compasso de plantação, ou seja, a distância entre as árvores, é uma das decisões mais importantes no estabelecimento de um castanhal e está intimamente ligada à gestão da luz. Um compasso demasiado apertado levará a um ensombramento mútuo precoce entre as árvores. As copas competirão por luz, o que resultará em menor produção nas partes inferiores e internas, e poderá levar a um crescimento excessivo em altura, dificultando as operações culturais e a colheita.
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Por outro lado, um compasso demasiado largo pode levar a um subaproveitamento do terreno nos primeiros anos, com muita luz solar a incidir diretamente no solo em vez de ser intercetada pelas copas das árvores. A escolha do compasso ideal é um equilíbrio que deve ter em conta o vigor da variedade e do porta-enxerto, a fertilidade do solo e o sistema de condução da árvore. Compassos definitivos de 10×10 metros ou 12×12 metros são comuns, por vezes com compassos mais adensados inicialmente, prevendo-se a eliminação de árvores alternadas no futuro.
A orientação das linhas de plantação também tem um papel na otimização da interceção da luz. Em terrenos planos, a orientação Norte-Sul é geralmente preferível à orientação Este-Oeste. Com a orientação Norte-Sul, ambos os lados da copa recebem luz solar direta durante uma parte do dia (o lado Este de manhã e o lado Oeste à tarde), o que resulta numa distribuição mais uniforme da luz e reduz o ensombramento mútuo entre as linhas.
Em terrenos com declive, a orientação das linhas deve seguir as curvas de nível para facilitar as operações culturais e controlar a erosão. Nestes casos, a topografia do terreno terá uma maior influência na exposição solar de cada árvore. As encostas viradas a Sul (no hemisfério Norte) são as que recebem maior insolação, sendo geralmente as mais quentes e secas, enquanto as encostas viradas a Norte são mais frescas e sombrias. A escolha da encosta pode ser um fator determinante para o sucesso da cultura em função do clima local.
O papel da poda na gestão da luz
A poda é a ferramenta mais poderosa que o agricultor possui para manipular a arquitetura da copa da castanheira e, assim, gerir a distribuição da luz no seu interior. O principal objetivo da poda de manutenção é garantir que a luz solar consiga penetrar o mais profundamente possível na copa, alcançando o maior número de folhas e de ramos frutíferos. Uma copa densa e mal iluminada é uma copa ineficiente e pouco produtiva.
A poda deve visar a eliminação de ramos que se cruzam, ramos verticais muito vigorosos (ladrões) que crescem no interior da copa e sombreiam outras estruturas, e ramos excessivamente densos. O objetivo é criar uma estrutura de ramos equilibrada, com espaços que permitam a passagem da luz e a circulação do ar. Uma boa circulação de ar é também importante para reduzir a humidade no interior da copa, o que ajuda a prevenir o desenvolvimento de doenças fúngicas.
A poda de formação, realizada nos primeiros anos, estabelece a base para uma boa arquitetura da copa. Ao definir a altura do tronco e selecionar os ramos principais bem distribuídos e com ângulos de inserção abertos, está-se a criar uma estrutura que no futuro será mais fácil de iluminar e de gerir. A forma de condução da árvore (por exemplo, em vaso ou em eixo central) também influencia a interceção e distribuição da luz.
É importante sublinhar que a resposta da árvore à poda é localizada. A remoção de um ramo estimula o crescimento de novos rebentos na vizinhança do corte. Esta resposta pode ser usada estrategicamente para renovar as zonas produtivas da árvore. Ao eliminar um ramo velho e sombreado, abre-se uma “janela” de luz que irá estimular o desenvolvimento de novos ramos, que se tornarão produtivos nos anos seguintes, mantendo assim a árvore jovem e produtiva por mais tempo.